domingo, 1 de novembro de 2015

Por que coisas ruins acontecem com pessoas boas?

Por que será, meus caros amigos, que há tanta maldade no mundo? Por que há tanta guerra, tanta doença, tanta catástrofe? E por que, quando essas catástrofes acontecem, elas não poupam os justos, as pessoas boas e muitas vezes acabam livrando a cara de gente que, na nossa opinião, não faria a menor falta na face da terra?

Aliás, a maioria de nós, quando vê alguém de quem não gostamos passando por maus momentos, comentamos com uma certa alegria: “Tá vendo? A Justiça tarda mas não falha!”. Mas que raio de justiça é essa que não poupa as criancinhas inocentes, os nossos amigos mais queridos, as pessoas que amamos? Por que tanta coisa ruim acontece com tanta gente boa?

Num momento de crise como esse que o país atravessa é inevitável que essa pergunta nos venha à mente. Ou quando acontece um acidente aéreo como esse que matou 224 pessoas perto do Egito. Quanto cara legal não estaria nesse voo? Onde estará a famosa Justiça de Deus?

Para tentar responder a essa pergunta o rabino Harold Kushner escreveu, tempos atrás, um livro magnífico, chamado Quando Coisas Ruins Acontecem Às Pessoas Boas. Eu resolvi tocar no assunto hoje porque, do jeito que as coisas andam no mundo, tem muita gente se sentindo injustiçados, os que são crentes se revoltam com Deus e todos se revoltam de alguma maneira. 

O que o rabino Kushner nos propõe como resposta é surpreendente, principalmente em se tratando de um religioso. Deus, simplesmente, não é onipotente. Sim, há uma grande dose de aleatoriedade no universo. Tanta, que o grande físico Albert Einstein se recusava a acreditar. Quando foi descoberta a física quântica, por exemplo, Einstein não quis aceitá-la dizendo que Deus não joga dados. 

Kushner não chega a discordar de Einstein mas afirma claramente que a maldade do mundo não pode ser responsabilidade de Deus. E talvez, pelo mesmo princípio, nem mesmo a bondade possa ser. O rabino lembra que a ideia de que o mundo foi criado em seis dias é, na verdade, um mito. Que todos sabemos que o mundo é produto de uma evolução de bilhões de anos. E que, nas contas de Deus, ou do Universo, que são infinitas nós estaríamos aí pelo sexto dia da criação. 

Sim, o mundo ainda não está pronto. No princípio havia o caos, diz o livro do Gênesis. E de lá para cá o trabalho de Deus tem sido trazer ordem para esse caos. Alguns observam essa ordem nos fenômenos da natureza, na beleza das flores em determinados padrões gráficos que se repetem nas teias de aranha ou nas colméias. Ou ainda nos fractais, as figurinhas que parecem estrelas e se repetem de várias formas na natureza. Ou, no incrível fato de que nenhum asteróide gigante ainda ter atingido o nosso planeta embora isso seja bastante provável. 

Mas eu gosto dessa ideia de que Deus deixou o mundo inacabado porque bate de frente com a ideia alimentada por muita gente preguiçosa e irresponsável que acha que tudo é obra do destino e que se amanhã nosso planeta ficar sem água é simplesmente pela vontade de Deus. Ou, pior ainda, quando algo ruim nos acontece é porque contrariamos a vontade de Deus e aí morremos de culpa. 

Não, meus caros, Deus, se estiver lá em cima nos observando deve ter funções mais importantes que castigar filhos mal criados. E se ele nos entregou um mundo imperfeito, cheio de maldades, injustiças, catástrofes e obras do acaso, cabe a nós trabalhar pela ordem, pela justiça, por maior igualdade. 

Não adianta reclamar de Deus ou da sorte. O negócio é olhar para a frente e encarar os desafios que aparecem com coragem e disposição. Porque, se existe muita coisa ruim no mundo, também existe muita coisa pela qual vale a pena lutar. Para ouvir, clique aqui


foto: http://www.astropt.org/2013/08/12/deus-nao-joga-aos-dados-com-o-universo/

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