quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Como as grandes empresas usam a mídia para manipular a opinião pública

Lobby: fazendo amigos e influenciando pessoas.
Para manter controlar a opinião pública, principalmente em momentos de crise como o rompimento da barragem da Samarco, as grandes empresas usam várias estratégias. O jornal britânico The Guardian desvenda algumas delas, aqui  traduzidas e adaptadas. 

1. Controlar a o que está na pauta
Os lobistas têm sucesso ao controlar o que as pessoas debatem, o que está em pauta. Eles procuram diminuir a repercussão  do que não lhes inteessam, dispersando o que lhes incomodam e fortalecendo a repercussão daqueles que os beneficiam.  Se alguém questiona o impacto ambiental de determinada empresa, os lobistas vão levar mostrar que isso é pouco relevante diante dos benefícios que ela oferece, como geracão de empregos e impostos. Quando essa conversa controlada se torna dominante, as opiniões contrárias parecem marginais e irrelevantes. 
2. Saber usar a mídia
O truque é saber quando usar a imprensa e quando evitá-la. Quanto mais barulho há, menos controle os lobistas têm. Mas a mícia é um meio crucial para  influenciar o governo. As mensagens são cuidadosamente elaboradas.  Ainda que o interesse da empresa seja pura e simplesmente ganhar dinheiro de forma egoísta,  isso será embalado para aparecer como obra de interesse social de amplo alcance.   Nessa hora isso é vendido como crescimento econômico e geração de empregos.  
3. Transformar sua causa numa causa coletiva
Se uma empresa tenta apresentar uma reivindicação sozinha, vai parecer que ela está sendo egoísta, que visa só os seus próprios interesses. O que é necessário é criar uma massa vozes defendendo a mesma causa. Isso pode ser perfeitamente fabricado, organizando por exemplo um grupo de pessoas que vai escrever cartas a um jornal, procurando a televisão em grupos para defender a instalação de determinada indústria. 
4. Use a credibilidade dos outros
As empresas em geral estão entre as fontes de informação que têm menos credibilidade para o público. Assim, elas precisam de pessoas autênticas aparentemente independentes para passar as mensagens que lhes interessam. Um lobista da indústria nuclear admitiu ao Guardian que espalha mensagens via “opiniões terceirizadas porque o público suspeitaria  se nós começássemos enfiar mensagens pró-nucleares goela abaixo deles". A Phillips Morris patrocinou um ex-policial para falar contra uma lei britânica que obriga as indústrias a vender cigarros em embalagens sem marca ou figuras atraentes alegando que isso poderia favorecer  o contrabando.
5. Patrocinar uma universidade
A credibilidade acadêmica sempre ajuda para formar opinião. Foi assim, por exemplo, que os banqueiros conseguiram afrouxar as regras do mercado financeiro americano: fazendo grandes economistas de grandes universidades defender um mercado “mais livre”. Algumas universidades podem oferecer às empresas um pacote completo de lobby: um relatório de que a mídia goste, um seminário, audiências com políticos. “São exatamente os mesmos serviços que uma agência de lobby ofereceria”, disse um lobista influente ao Guardian, eles apenas são mais caros”.
6. Ouvir os seus críticos
Assim como os exércitos precisam conhecer seus inimigos, saber o que eles pensam e como eles agem as empresas procuram pesquisar os grupos adversários. Se uma determinada comunidade reage contra a construção de uma indústria em determinado lugar, os lobistas farão um exercício de consulta pública.  Não é porque eles são bonzinhos: “As empresas têm que saber prever riscos e obter inteligência quanto a eventuais problemas”  diz Bernard Hughes, um ex-lobista da Tesco. Para algumas empresas, consultas à comunidade de qualquer tipo como pesquisas qualitativas, show-rooms, exercícios de planejamento e audiências públicas são meios de afastar os oponentes e abrir um canal controlado por onde adversários em potencial possam expressar suas preocupações. 
7. Neutralizar os adversários
Os lobistas veem suas batalhas contra os ativistas como “guerra de guerrilha”. Eles querem que o governo ouça as suas mensagens e ignore argumentos contrários vindos de  de ambientalistas, ativistas,  que têm sido a pedra no sapato dos lobistas profissionais. Por isso eles desenvolveram táticas graduais para neutralizar essa tais ameaças. Monitorar grupos de oposição é comum: eles defendem a necessidade de um monitoramento 360 graus da  internet para que eles possam detectar os primeiros sinais de alerta de atividades contrárias aos seus interesses. Eles também usam a tática de “dividir para reinar”, separando grupos entre os “ativistas sensatos” e os “extremistas”.
8. Ocupar o topo do Google com notícias positivas
O mundo de hoje é uma democracia digital, dizem os lobistas. Já se foi o tempo de quando, para influenciar numa decisão bastava almoçar com um deputado ou levar um jornalista para jantar. Isso representa um desafio mas não é intransponível. Uma chave para controlar a informação online é inundar a web com informação positiva, criando falsos blogues para clientes e press releases  que nenhum jornalista  vai ler. O grande volume desse conteúdo positivo engana os serviços de busca levando-os a colocar o conteúdo simulado acima do que é negativo, levando todo o trabalho dos críticos a cair no ranking do Google. Como poucos de nós dificilmente clicam além da primeira página  do resultado da busca, os lobistas fazem o conteúdo negativo “desaparecer”.  
9. Construir confiança
Sem dúvida, os lobistas precisam ter acesso aos políticos. Isso nem sempre é sinônimo de influência, porque os negócios só podem ser costurados quando você já é de casa. E o acesso aos políticos  pode ser comprado. Não em dinheiro mas  no investimento feito em um relacionamento. Os lobistas constróem confiança, oferecem ajuda e aceitam favores. O melhor meio de abreviar o processo é contratar amigos de políticos como ex-funcionários e colegas. 
10. Ofereçer emprego

Há uma percepção de que as decisões tomadas pelo governo poderiam ser influenciadas  pela recompensa de um futuro emprego. Hoje em dia, o número de pessoas  que passa do governo para a iniciativa privada é além da medida. O Guardian informa que o número de funcionários do Ministério da Defesa da Grã-Bretanha que passou para empresas relacionada ao setor armamentista foi muito significativo. No Brasil é comum ex-ministros serem contratados como consultores de grandes empresas pela influência que têm e pelo conhecimento da burocracia do Governo. O Ministério da Defesa britânico é simplesmente o maior cliente da iniciativa privada. O negócio é tão sério que ex-funcionários do Banco Central são obrigados a cumprir um período de quarentena antes de aceitar empregos em instituições financeiras.

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