domingo, 29 de novembro de 2015

O consumismo e o desastre de Mariana (audio)

O consumismo e o desastre de Mariana

A sociedade de consumo obriga as pessoas a aparentar ter mais do que têm, a comprar o que não precisam, gastar mais do que podem, se afundar em dívidas e trabalhar parapassar a vida pagando contas.

Se o vizinho compra um carro novo, eu quero ter um melhor. A televisão me vende uma vida ideal, onde há paisagens deslumbrantes mulheres e homens perfeitos e diversos produtos que me trarão a felicidade eterna.

Parece inocente. Mas esse mundo idealizado obriga a maioria das pessoas a passar a vida competindo, acreditando que a vida é uma guerra em que só os mais fortes vencem. Nas favelas, os jovens pobres matam para conseguir um tênis de marca. Nos bairros de classe média se matam de trabalhar para oferecer ao filho o mesmo tênis ou quem sabe uma viagem a Disney.

E para fazer essa sociedade que consome mais do que precisa funcionar é necessário ir buscar as únicas riquezas verdadeiras que existem: os recursos naturais. As minas cavucam o chão, as madeireiras derrubam as árvores e a agricultura industrial exaure o solo e a água para levar alimentos para as pessoas e para as indústrias, já que produtos como o algodão e a fécula, por exemplo vão direto para a produção industrial.

A cada ano que passa, a despeito da aparência de riqueza de alguns, todos estamos ficando mais pobres porque os recursos do planeta estão se esgotando e nós sabemos que não se vive bebendo petróleo, comendo ouro ou mastigando diamantes.

Mas os mais ricos sabem disso. Por isso tratam de se apropriar ao máximo da riqueza que existe. A riqueza vai ficando cada vez mais concentrada na mão de uns poucos enquanto a maioria marginalizada se acomodada como pode. Podem até ter um lugar ao sol. Mas certamente não terá sombra.

Toda essa reflexão vem a propósito do desastre de Mariana, onde duas barragens de rejeitos minerais se romperam, assassinando o Rio Doce e já drenando as forças de boa parte da vida marinha entre o Espírito Santo e a Bahia.

Por que a Samarco precisou ir tão longe? Porque o mercado de minério de ferro está em queda. A China, grande comprador mundial, desacelerou sua economia e aí os executivos são pressionados para produzir cada vez mais gastando cada vez menos, porque a diretoria cobra, porque o mercado de ações exige. Porque estamos todos numa corrida de ratos da qual saímos todos infelizes ainda que acumulemos riqueza e poder.

E quando um desastre como esses acontece todos nos lembramos de culpar o capitalismo selvagem, a ganância das multinacionais como a Vale e a BHP, que são as donas da Samarco, a falta de cuidados das autoridades e tudo o mais. É evidente que todos têm culpa no cartório. Mas nós frequentemente nos esquecemos que o aço que sustenta os nossos prédios ou os minérios presentes em nossos smartphones vêm de minas como essa. É nossa sede de consumir que os alimenta.
Cláudio Teran me lembra do pescador Benilde, de Aimorés, navegando feito um coveiro que recolhe os peixes e camarões mortos no Rio Doce enquanto chora. Benilde é uma daquelas pessoas de quem o progresso passa longe, que vive do básico e consome apenas o que precisa. Isso quando encontra. Ele não faz parte da sociedade de consumo. Mas os seus tentáculos chegaram até ele, arrancando-o das suas raízes do rio que era quase um amigo, dos peixes cuja morte ele agora chora.

Não há como fugir, meus amigos. Nossos somos parte da sociedade de consumo e cúmplices de acidentes como esse na medida em que, como eu disse no início queremos aparentar mais do que temos, compramos o que não precisamos e alimentamos um monstro que não vai parar enquanto não devorar o planeta inteiro.

sábado, 28 de novembro de 2015

Como Freud ajudou a inventar o consumismo

As ideia de Edward Bernays sobre como manipular as massas e levá-las a comprar e consumir aquilo de que não precisam e as influências do pensamento de Freud no consumismo dos nossos dias.

The Century of the self (legendado)- Happiness Machines 1/4 from botewind on Vimeo.

Raridade: Entrevista com Carl Jung legendada em Português

Dicas de consumo consciente: Como sobreviver nesta Black Friday


Daniela Kopsch, do blog Less is the new black

Chegamos naquela época do ano em que é normal pisotear outras mulheres para comprar uma blusinha ou dar um soco no cara ao lado para conseguir a TV em promoção.
A black friday é um tipo de Dia Mundial do Consumo. Como sobreviver à esta sexta-feira da melhor maneira possível é o que vamos tentar descobrir agora.
Em primeiro lugar: enquanto você está lendo este post, há várias abas abertas de promoções, certo? Vamos fechar todas para continuar a conversa.
Há três tipos de compras na black friday:
a) produtos legais que estão muito baratos
b) produtos que você quer e estão muito baratos
c) produtos que você precisa e estão muito baratos
Os produtos legais que estão muito baratos são os que apareceram espontaneamente em newsletters do seu e-mail ou você encontrou fuçando nas suas lojas preferidas. Estes são os primeiros a descartar. Não é tão difícil, vai. Você nem queria eles. Pularam na sua frente sem serem chamados.
Os produtos que você quer e estão muito baratos são os que você procurou diretamente digitando o nome deles em sites de pesquisa de preço etc. No meu caso era um kindle e um tênis de corrida. Estes você deve evitar. Aqui é onde entra a parte “consciente” da expressão “consumo consciente”. É importante se perguntar: “por que você quer?”, “precisa ser agora?”. Se você puder comprar lá na frente ao invés de hoje, prefira comprar lá na frente. Mesmo que hoje ele esteja com 50% de desconto, o seu dinheiro vale mais no bolso hoje do que amanhã. É a chamada liquidez. Comprar porque você quer talvez não seja o melhor negócio, será que você precisa mesmo disso? Neste caso, seria o nosso terceiro tipo de compra.
Os produtos que você precisa e estão muito baratos: se você chegou até aqui na sua reflexão, talvez signifique que a compra valha a pena. Só você sabe do que precisa ou não e se tem que ser agora ou pode ser deixado pra mais tarde. No meu caso, decidi que o kindle e o tênis de corrida ficariam para mais tarde e aproveitei a black friday para comprar uma passagem para ver quem eu amo. Leia mais em Less is the new black

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O Homem que fez a sua cabeça e de quem você nunca tinha ouvido falar


Vivemos numa sociedade consumista, onde somos medidos pelo que temos, os produtos são feitos para entrar rapidamente em obsolescência e sempre queremos consumir mais. Fazemos isso inconscientemente, sem notar que somos manipulados e nem mesmo saber que um homem inventou isso tudo.

Seu nome era Edward Bernays, que nomeou a si mesmo como relações públicas e moldou o consumismo que governa a nossa era, bem como as técnicas de manipulação da mídia. Se você vinha culpando Maquiavel por isso, agora é hora de saber a verdade.

Cristovam Buarque pede para votar aberto

POR MÍRIAM LEITÃO
25/11/2015 18:53
"Nós não temos mais gordura de credibilidade para queimar junto à opinião pública." Com esse argumento, o senador Cristovam Buarque pediu para o voto dele ser aberto.
- Quero ser fiscalizado - disse o senador.
A Casa discute se os senadores votarão aberto ou fechado na decisão sobre manter ou não a prisão do senador Delcídio Amaral.
Já o senador Jader Barbalho pediu voto secreto.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Desastre de Mariana pode levar ao fim do armazenamento de rejeito em barragens


S
Se os governos deixassem de aprovar projetos de armazenamento de rejeitos de mineração em barragens como as que se romperam em Mariana, mais minas passariam a usar o empilhamento a seco e buscar tecnologias alternativas e menos agressivas ao meio ambiente, declarou John Werring, consultor sênior da Fundação David Suzuki a Reuters.

“Mas o que sempre acaba prevalecendo é a economia”, lamenta ele. A Fundação é um grupo ambientalista canadense.

A previsão da Reuters é de que no Brasil o desastre de Mariana vai levar o Congresso a aprovar leis mais duras para proteger o meio ambiente no novo código de mineração e o processamento a seco pode se tornar obrigatório, de acordo com um congressista ouvido pela Reuters.

No mundo já há várias empresas usando essa tecnologia como a mina de ouro The Greens Creek no Alaska, uma das pioneiras no processo a seco. A mina La Colpa no deserto Atacama no e a mina de cobre Rosemont no Arizona nos Estados Unidos também vão usar o empilhamento a seco.

A mina de ferro Karara, na Australia deposita no deserto outback um material quimicamente inerte que é empilhado e seca antes de retornar ao solo.

"As tecnologias de empilhamento a seco estão sendo mais usadas onde a água é escassa” diz Dirk Van Zyl, professor engenharia de mineração na Universidade British Colombia.

Uma tecnologia diferente está sendo usada pela Teck Resources na mina de carvão de Elkview, no Canadá, que combina métodos secos com molhado
s e a mina de chumbo de Silvertip em British Columbia vai usar uma combinação de armazenamento seco com armazenamento no subsolo. will use a combination of dry and underground storage.

No Brasil, conforme foi noticiado aqui no Blogue já existem pelo menos três empresas trabalhando com o empilhamento a seco e o reaproveitamento dos rejeitos de minério: a Mineirita, que é uma mineradora, e a Green Metals e a New Steel, que são empresas de reciclagem.




A Vale, a BHP, a Samarco e a tragédia de Mariana

Tem alguém morrendo na rua, há muita gente passando ao lado na calçada, mas ninguém faz nada para ajudar. A pessoa caída na calçada se esvai lentamente, é certo que vai morrer se for deixada ali mas também é certo que, se socorrida há tempo, a morte poderá ser evitada, ou – pelo menos – o sujeito só ficará com algumas sequelas. Mas as pessoas passam, observam, comentam e, simplesmente não agem.

É assim que o Brasil se comporta diante do desastre do rompimento das barragens da Samarco, empresa da Vale e da BHP Biliton. As barragens estavam com licenciamento vencido, se romperam, sairam destruindo o mundo morro abaixo e caminharam lentamente até o mar, sem que ninguém tivesse feito nada.

O Rio Doce morreu sem que Sebastião Salgado tivesse movido uma palha. A natureza se esvaiu na esteira do mar vermelho sangue que se movia quase em slow-motion. A Presidente da República sobrevoou a área, o Governador esteve lá, mas todos como expectadores.

É como acontece alguém é atropelado na rua e a maioria dos que se aglomeram em volta é de curiosos. Os paramédicos, quando chegam, têm dificuldade de transpor a multidão de bisbilhoteiros e fazer o que de fato interessa, tratar de salvar quem está morrendo.

Se formos analisar o período desde o vencimento do licenciamento das barragens até a chegada dela ao mar, vamos ver que houve tempo mais que suficiente para evitar que o desastre acontecesse ou para que seus efeitos fossem mitigados. Mas ninguém moveu uma palha. A não ser um prefeito de um município atingido que escreveu uma mensagem indignada acho que no Facebook.

O desastre da Samarco-Vale-BHP em Mariana caminha para ser um maiores desastres ambientais de todos os tempos, talvez comparável a Chernobyl e ao desastre do Exxon-Valdez. São cicatrizes que deixamos sobre a terra que jamais se fecham, se tornam quelóides indeléveis que deixamos sobre o planeta que nos abriga, nos nutre e nos mantém vivos.

Há uma expressão popular que diz que tal coisa “é mais feia que bater em mãe”. Sim, nós estamos espancando a nossa mãe terra, a mãe mais importante de todas porque é a mãe de todos, dos que estiveram aqui no passado e dos que virão no futuro.

Uma mãe doente é incapaz de gerar filhos sadios. As estratégias de gerenciamento de crise das empresas, as palavras-chave compradas no Google, as entrevistas evasivas – tudo isso de nada adiantará.

É como a multidão de curiosos aglomerada diante de uma pessoa ferida de morte na rua. Só faz barulho desncessário. E mostra o quanto ainda somos egoístas. Na hora em que um desastre desse tamanho acontece, as empresas, ao invés de tentar salvar as pessoas e o meio ambiente, gastam todas as suas energias tentando salvar a si mesmas. (foto: Ricardo Moraes/Reuters).

domingo, 22 de novembro de 2015

O que há em comum entre jovens terroristas na Europa e jovens criminosos no Brasil


Jovens criminosos do Brasil: filhos do descaso do Estado tanto quanto os jovens jihadistas.
O que há em comum entre um jovem terrorista muçulmano na Europa e um jovem delinquente no Brasil? Bem, tirando provavelmente o sotaque árabe e a religião professada, as diferenças são muito pequenas, segundo o que se pode concluir de um artigo publicado esta semana no jornal inglês The Guardian por um agente do FBI muçulmano e descendente de paquistaneses. 

Ele sabe do que está falando, Embora se mantenha no anonimato, ele deixa claro que foi criado nas mesmas comunidades onde os jihadistas vão recrutar os jovens para amarrar bombas ao corpo e explodir pessoas. E que os jovens são atraídos para o terrorismo porque o país que adotaram para viver falha em lhes oferecer um sentimento de pertencimento e de aceitação.

Principalmente depois do 11 de setembro, todas as pessoas com traços de árabes tornaram-se potenciais suspeitos de terrorismo nos Estados Unidos e em diversos países da Europa. E assim, são detidos com frequência para interrogatórios, são obrigados a se deixar fotografar e deixar as impressões digitais ao entrar em vários países e, diante de tanta hostilidade, vêem com muita desconfiança os policiais e as autoridades.

No Brasil, embora não tenha havido um acontecimento específico para deflagrar uma onda de suspeita, a desigualdade social alimentada ao longo dos séculos levou os jovens pobres vivendo em favelas a também a ver  polícia com desconfiança. E não sem motivo. Quanto mais escura for a cor da sua pele maior a chance de ser parado numa batida policial, ser revistado e passar por constrangimentos.

O agente do FBI diz que a chave para se combater o terrorismo seria a colaboração das comunidades muçulmanas. Mas as comunidades também vêem a polícia com desconfiança porque a atitude da polícia em relação a eles é frequentemente desrespeitosa e agressiva. Ele conta a cara de paquistanês que tem e que em tese deveria facilitar o seu trabalho, tornava a coisa ainda pior. Porque ele era visto como um traidor, um vira-casaca.

Imagine como se sentem os habitantes das favelas brasileiras quando os policiais sobem os morros de fuzil na mão, chutando as portas e gritando com todo mundo. O agente do FBI diz que, caso as comunidades colaborassem, seria muito difícil os terroristas se esconderem ou passarem despercebidos. Afinal são lugares pequenos em que todo mundo se conhece e qualquer mudança de rotina não passa desapercebida.

Mas assim como acontece com as comunidades muçulmanas e as autoridades americanas e européias, aqui também há um fosso entre as comunidades das favelas e os representantes do Estado.

A desconfiança cria um solo fértil de onde as organizações terroristas podem recrutar com facilidade e para que a comunidade não deseje colaborar com as autoridades. “
O mesmo se pode dizer  das favelas brasileiras, onde o poder do tráfico seduz muito mais que o chamado bom caminho. Simplesmente porque o Estado se ausenta e quando comparece, o faz de forma desastrada e desastrosa fortalecendo o laço das comunidades com o crime organizado e afastando os jovens de uma vida decente.
“Como agente do FBI, eu sei que as comunidades têm a chave para combater o terrorismo. E como um muçulmano, eu sei que a melhor chance de evitar que os jovens se juntem a grupos de jihadistas é dar a eles um senso de aceitação no país em que adotaram”, afirma ele.
E à medida em que aumenta a desconfiança aqui e lá, também aumenta a violência em proporção ainda maior. E não adianta jogar bombas na Síria, no Iraque ou no Afeganistão quando o problema está em casa. E não adianta botar a polícia na rua quando o problema não é de polícia. É de saúde, educação e de oportunidades de emprego e de uma vida melhor.



Agente muçulmano do FBI diz que comportamento de autoridades do Ocidente empurra jovens para o terrorismo

Jovens jihadistas: desconfiança das autoridades faz com que se sintam excluídos e atraídos para o terrorismo.
Não adianta bombardear a Síria, o Iraque ou o Afeganistão para combater o terrorismo. O segredo é agir dentro dos próprios países ocidentais, junto às comunidades muçulmanas. É o que revela um agente do FBI que é muçulmano praticante e desdente de paquistaneses em artigo no jornal inglês The Guardian. . 

 “Como agente do FBI, eu sei que as comunidades têm a chave para combater o terrorismo. E como um muçulmano, eu sei que a melhor chance de evitar que os jovens se juntem a grupos de jihadistas é dar a eles um senso de aceitação no país em que adotaram.”, afirma ele. 

Em geral os muçulmanos migraram de países autoritários, onde a polícia já é truculenta. No ocidente, eles esperam encontrar democracia e justiça. Mas encontram uma polícia que, por preconceito, os trata da mesma maneira que eram tratados em seus países de origem. 
  
Depois do 11 de setembro, toda pessoa com traços árabes passou a ser suspeita: são detidos para interrogatórios por qualquer pretexto, são fotografados e têm as impressões digitais recolhidas nos aeroportos. Isso, segundo o agente, que se mantém no anonimato, só faz aumentar a desconfiança. 

É essa desconfiança que impede, por exemplo, que as comunidades informem as autoridades de atividades terroristas, o que seria crucial para a prevenção dos atentados. 

As comunidades muçulmanas são lugares em que todos se conhecem e que qualquer coisa que fuja da rotina pode ser observada. Um grupo terrorista dificilmente poderia agir sem ser notado pela comunidade.

Mas as autoridades, ao invés de tratar as comunidades com respeito e mostrar que estão agindo para garantir mais segurança e qualidade de vida para todos, suspeitam de todo mundo e, quando um atentado acontece todos são vistos como culpados. 

A investigação acontece “às custas de violar a privacidade das pessoas dentro da comunidade muçulmana.”, diz ele.  


“A desconfiança cria um solo fértil de onde as organizações terroristas podem recrutar com facilidade e para que a comunidade não deseje colaborar com as autoridades.” escreve o agente.   

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Como as grandes empresas usam a mídia para manipular a opinião pública

Lobby: fazendo amigos e influenciando pessoas.
Para manter controlar a opinião pública, principalmente em momentos de crise como o rompimento da barragem da Samarco, as grandes empresas usam várias estratégias. O jornal britânico The Guardian desvenda algumas delas, aqui  traduzidas e adaptadas. 

1. Controlar a o que está na pauta
Os lobistas têm sucesso ao controlar o que as pessoas debatem, o que está em pauta. Eles procuram diminuir a repercussão  do que não lhes inteessam, dispersando o que lhes incomodam e fortalecendo a repercussão daqueles que os beneficiam.  Se alguém questiona o impacto ambiental de determinada empresa, os lobistas vão levar mostrar que isso é pouco relevante diante dos benefícios que ela oferece, como geracão de empregos e impostos. Quando essa conversa controlada se torna dominante, as opiniões contrárias parecem marginais e irrelevantes. 
2. Saber usar a mídia
O truque é saber quando usar a imprensa e quando evitá-la. Quanto mais barulho há, menos controle os lobistas têm. Mas a mícia é um meio crucial para  influenciar o governo. As mensagens são cuidadosamente elaboradas.  Ainda que o interesse da empresa seja pura e simplesmente ganhar dinheiro de forma egoísta,  isso será embalado para aparecer como obra de interesse social de amplo alcance.   Nessa hora isso é vendido como crescimento econômico e geração de empregos.  
3. Transformar sua causa numa causa coletiva
Se uma empresa tenta apresentar uma reivindicação sozinha, vai parecer que ela está sendo egoísta, que visa só os seus próprios interesses. O que é necessário é criar uma massa vozes defendendo a mesma causa. Isso pode ser perfeitamente fabricado, organizando por exemplo um grupo de pessoas que vai escrever cartas a um jornal, procurando a televisão em grupos para defender a instalação de determinada indústria. 
4. Use a credibilidade dos outros
As empresas em geral estão entre as fontes de informação que têm menos credibilidade para o público. Assim, elas precisam de pessoas autênticas aparentemente independentes para passar as mensagens que lhes interessam. Um lobista da indústria nuclear admitiu ao Guardian que espalha mensagens via “opiniões terceirizadas porque o público suspeitaria  se nós começássemos enfiar mensagens pró-nucleares goela abaixo deles". A Phillips Morris patrocinou um ex-policial para falar contra uma lei britânica que obriga as indústrias a vender cigarros em embalagens sem marca ou figuras atraentes alegando que isso poderia favorecer  o contrabando.
5. Patrocinar uma universidade
A credibilidade acadêmica sempre ajuda para formar opinião. Foi assim, por exemplo, que os banqueiros conseguiram afrouxar as regras do mercado financeiro americano: fazendo grandes economistas de grandes universidades defender um mercado “mais livre”. Algumas universidades podem oferecer às empresas um pacote completo de lobby: um relatório de que a mídia goste, um seminário, audiências com políticos. “São exatamente os mesmos serviços que uma agência de lobby ofereceria”, disse um lobista influente ao Guardian, eles apenas são mais caros”.
6. Ouvir os seus críticos
Assim como os exércitos precisam conhecer seus inimigos, saber o que eles pensam e como eles agem as empresas procuram pesquisar os grupos adversários. Se uma determinada comunidade reage contra a construção de uma indústria em determinado lugar, os lobistas farão um exercício de consulta pública.  Não é porque eles são bonzinhos: “As empresas têm que saber prever riscos e obter inteligência quanto a eventuais problemas”  diz Bernard Hughes, um ex-lobista da Tesco. Para algumas empresas, consultas à comunidade de qualquer tipo como pesquisas qualitativas, show-rooms, exercícios de planejamento e audiências públicas são meios de afastar os oponentes e abrir um canal controlado por onde adversários em potencial possam expressar suas preocupações. 
7. Neutralizar os adversários
Os lobistas veem suas batalhas contra os ativistas como “guerra de guerrilha”. Eles querem que o governo ouça as suas mensagens e ignore argumentos contrários vindos de  de ambientalistas, ativistas,  que têm sido a pedra no sapato dos lobistas profissionais. Por isso eles desenvolveram táticas graduais para neutralizar essa tais ameaças. Monitorar grupos de oposição é comum: eles defendem a necessidade de um monitoramento 360 graus da  internet para que eles possam detectar os primeiros sinais de alerta de atividades contrárias aos seus interesses. Eles também usam a tática de “dividir para reinar”, separando grupos entre os “ativistas sensatos” e os “extremistas”.
8. Ocupar o topo do Google com notícias positivas
O mundo de hoje é uma democracia digital, dizem os lobistas. Já se foi o tempo de quando, para influenciar numa decisão bastava almoçar com um deputado ou levar um jornalista para jantar. Isso representa um desafio mas não é intransponível. Uma chave para controlar a informação online é inundar a web com informação positiva, criando falsos blogues para clientes e press releases  que nenhum jornalista  vai ler. O grande volume desse conteúdo positivo engana os serviços de busca levando-os a colocar o conteúdo simulado acima do que é negativo, levando todo o trabalho dos críticos a cair no ranking do Google. Como poucos de nós dificilmente clicam além da primeira página  do resultado da busca, os lobistas fazem o conteúdo negativo “desaparecer”.  
9. Construir confiança
Sem dúvida, os lobistas precisam ter acesso aos políticos. Isso nem sempre é sinônimo de influência, porque os negócios só podem ser costurados quando você já é de casa. E o acesso aos políticos  pode ser comprado. Não em dinheiro mas  no investimento feito em um relacionamento. Os lobistas constróem confiança, oferecem ajuda e aceitam favores. O melhor meio de abreviar o processo é contratar amigos de políticos como ex-funcionários e colegas. 
10. Ofereçer emprego

Há uma percepção de que as decisões tomadas pelo governo poderiam ser influenciadas  pela recompensa de um futuro emprego. Hoje em dia, o número de pessoas  que passa do governo para a iniciativa privada é além da medida. O Guardian informa que o número de funcionários do Ministério da Defesa da Grã-Bretanha que passou para empresas relacionada ao setor armamentista foi muito significativo. No Brasil é comum ex-ministros serem contratados como consultores de grandes empresas pela influência que têm e pelo conhecimento da burocracia do Governo. O Ministério da Defesa britânico é simplesmente o maior cliente da iniciativa privada. O negócio é tão sério que ex-funcionários do Banco Central são obrigados a cumprir um período de quarentena antes de aceitar empregos em instituições financeiras.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Empresa que recicla rejeitos de minério é exemplo no consumo de água e energia


Duas matérias que explicam como trabalha a Green Metals que compra rejeito das mineradoras para beneficiar e produzir ferro e outros materiais:

(Vera Batista,  do Correio Brasiliense)
Uma empresa que reduziu pela metade o uso de água e o consumo de energia elétrica foi a Green Metals, empresa de recuperação ambiental do Grupo de Mineração Bio-Gold, especializada na reciclagem de rejeitos de minério de ferro e pioneira no processo de concentração a seco. Green Metals economiza US$ 215 milhões por ano, ao deixar de utilizar 4,3 bilhões de litros de água. Além disso, passou a consumir 10 vezes menos energia elétrica. Por meio de tecnologia de ponta desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), todo o material passa por um processo de enxugamento, no qual a água é retirada dos produtos e reutilizada no processamento.


A cada tonelada do que é dispensado pelas mineradoras, são retirados 65% de minério de ferro, 15% de areia, para uso da construção civil, e 5% de argila, para produção de cerâmica. “O processo é tão refinado, que conseguimos do rejeito um produto com teor de ferro de 65% (FE64%),superior ao que é normalmente produzido (FE 62%)”, explicou José Guilherme, o diretor de Relações Institucionais da Green Metals., durante o Fórum das Águas, que acontece em Inhotim, Minas Gerais, até a próxima sexta-feira.


(do Portal Revista Ecológico
TRABALHO PIONEIRO
Atualmente, a Green Metals tem três UTMs: a de BH, que já está em operação; a UTM Brumadinho, em fase avançada de implantação no município homônimo; e a UTM Miguel Burnier, que será integrada a um terminal ferroviário próprio, evitando que caminhões com minério cruzem as rodovias ou impactem o cotidiano das comunidades de sua área de abrangência.
Nessas unidades, também é desenvolvido um trabalho pioneiro de monitoramento – o Sistema Supervisor de Indicadores, que garante mais segurança e qualidade aos processos e à equipe. “Vamos monitorar os quesitos econômicos, financeiros, operacionais e ambientais em tempo real, incluindo a emissão de gases, consumo de água e turn out de empregados”, completa Siqueira.  
As operações na UTM BH lideradas pela Green Metals foram iniciadas em fevereiro deste ano, com média de produção mensal de 130 mil toneladas.  Lá, está sendo feita a recuperação ambiental da antiga Mina Corumi, da Empresa de Mineração Pau Branco (Empabra). Paralelo à instalação dos canais de drenagem e à aplicação da hidrossemeadura, a Green Metals também está indo além da legislação e realizando outras benfeitorias nas comunidades da região da mina, que integra o complexo da Serra do Curral. Entre elas, estão a pavimentação de ruas, recuperação de estradas e reforma de casas e espaços públicos. Nos últimos dois anos, a empresa investiu um total de R$ 15 milhões em contrapartidas socioambientais nas áreas onde atua.

Desastre de Mariana poderia ser evitado com novas tecnologias de reaproveitamento de rejeitos

Estação de tratamento de minério a seco da New Steel
A construção de barragens para recolher rejeitos de minas, como faz a Samarco em Mariana,  não é a única alternativa para deposição desses materiais. A empresa Minerita, localizada em Itatiaiuçu, na zona metropolitana de Belo Horizonte, reaproveita parte dos rejeitos e por isso ganhou o Prêmio Bom Exemplo da Rede Globo no ano passado. 

O material é descartado numa montanha de areia, que é enviada para outra fábrica da empresa, que extrai o minério de ferro remanescente nos rejeitos. O que sobra é misturado com cimento para fazer produtos para a construção civil. Do material beneficiado, metade retorna como minério de ferro e a outra metade é utilizada na fabricação de pré-moldados para a construção civil.

São produzidos, em média, 3 milhões de blocos de concreto por ano e cerca de 5 milhões de peças que podem ser usadas em calçadas e estacionamentos, por exemplo. O supervisor de produção, Oto José Pedrosa, explicou à Globo que esse tipo de piso também ajuda o meio ambiente: “Esse piso permite um abastecimento do lençol freático, coisa que o asfalto não permite”.

RECUPERAÇÃO A SECO
Uma outra empresa, a Green Metals, trabalha exclusivamente comprando e reutilizando o rejeito das mineradoras para produzir novos materiais. Ela utiliza o processo de recuperação a seco, em que o rejeito, ao ser processado, separa minério de ferro, argila e areia, gerando minério de ferro de alta qualidade e subprodutos que podem ser utilizados na construção civil. 

A empresa consegue extrair dos rejeitos 65% de minério de ferro, 15% de areia, para uso da construção civil, e 5% de argila, para produção de cerâmica. “O processo é tão refinado, que conseguimos do rejeito um produto com teor de ferro de 65% (FE64%),superior ao que é normalmente produzido (FE 62%)”, explicou ao Correio Brasiliense José Guilherme, o diretor de Relações Institucionais da empresa.

Já a Votorantim Metais, voltada para a mineração de zinco,  teve uma receita extra de R$ 70 milhões com a venda de calcário agrícola retirado de seus rejeitos. E pretende eliminar todas as suas barragens até 2020. .

Uma outra empresa, a New Steel , pertencente ao grupo brasileiro Lorentzen, venceu o prêmio Platts Global Metals Awards 2015, na categoria inovação, por desenvolver uma tecnologia chamada Fines Dry Magnetic Separation (FDMS), onde a separação de ferro é feita magneticamente  a seco, poupando água, usando gás natural ou biomassa e sem gerar rejeitos. E o melhor:  concentrado obtido possui teor de ferro de 66%, acima do mínimo de 58% exigido para validar o produto como commodity. Ela opera com beneficiamento a seco em Minas Gerais desde 2010.


O ambientalista Apolo Lisboa disse ao portal do Insituto Humanitas, da Unisinos que o tratamento a seco, que é mais seguro para o meio ambiente, é mais caro e as mineradoras não querem gastar: “Os acionistas e os diretores querem bater recorde de lucratividade, é uma corrida insana ao lucro e às carreiras pessoais.”  O setor de mineracão é considerado o mais perigoso para se trabalhar segundo a Organização Internacional do Trabalho.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Rompimento de barragem pode retirar Vale de Índice de Sustentabilidade Empresarial

Pixação na estação da Vale em Governador Valadares. (Foto: Estadão)
O rompimento da barragem de Mariana deve afetar profundamente a imagem do setor de mineração no país, informam Mariana Durão, Mônica Ciareli e Fernanda Guimarães, no Estadão. Segundo especialistas ouvidos pelas repórteres vai ficar cada vez mais difícil a obtenção de novas licenças ambientais para a construção de barragens no país porque os órgãos ambientais deverão apertar o cerco nas barragens em funcionamento e aumentar as exigências para construção de barragens novas. 

As barragens são necessárias porque a rocha bruta normalmente tem pouca concentração de minério e, para separar o ferro do restante da rocha, é gerada uma grande quantidade de rejeito, normalmente formado por grandes quantidades de lama. Acontece que as barragens exigem monitoramento constante por causa da contínua descarga de lama e, como isso custa caro, nem sempre recebe a atenção que merece. 

Mineradoras mais modernas como a Anglo American estão aplicando no Sistema Amapá métodos de reaproveitamento dos resíduos despejados nas barragens, de onde é extraído mais ferro, aumentando a produção e diminuindo a quantidade de resíduos. 

PREJUÍZO NA IMAGEM
Empresas que têm ações negociadas em Bolsa de Valores como a Vale têm que apresentar boas práticas de sustentabilidade para manter-se valorizada. O rompimento das barragens da Samarco em Mariana pode tirar a Vale do Índice de Sustentabilidade Empresarial da BM&FBovespa. Segundo o Estadão o ISE reúne ações de empresas comprometidas não apenas com a preservação ambiental mas também com a eficiência econômica e a responsabilidade social. As ações da Vale já caíram cerca de 13% desde o desastre de Mariana. 


segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A Vale no Mar de Lama

Ainda que tenha tentado canalizar toda a lama para a Samarco, a Vale sai da tragédia de Mariana com a reputação manchada. Afinal, muito pouca gente conhece ou ouviu falar da Samarco. 

Junto com a CSN a Vale (então ainda do Rio Doce) carregava todo o orgulho das grandes empresas nacionais num período de guerra. Ela abria caminho para a industrialização e o progresso. Depois, quando foi privatizada, o ato de privatização e abriu feridas entre a opinião pública que o desastre de Mariana reabriu. 

Portanto, para a grande opinião pública o que aconteceu em Mariana não foi obra da anônima Samarco Tampouco da BHP Biliton que já se apressou em dizer que não tem nada com os peixes, muitos, mortos na esteira de lama vazada da barragem de Antonio Dias. Os ônus e os bônus sempre ficam com a marca mais forte. 

E, se a Vale não fica constrangida em receber seus dividendos da Samarco, não deveria se sentir excluída das responsabilidades pela barragem.  Principalmente porque foram vários acidentes, se considerarmos que após o rompimento da barragem e o início da corrente de lama, barreiras poderiam ter sido construídas para evitar o pior. 

Os danos causados pelo rompimento da barragem são irreparáveis. Eles marcarão a Vale para sempre. Eles já estão ressuscitando a ideia de desprivatização. Se isso é um sonho impossível, não deixa de ser uma mancha na reputação de uma empresa que até então, se mantinha meio à margem da opinião pública, sem feder nem cheirar, apenas uma grande empresa entre tantas outras. 


Mas agora não. A Vale está no centro de uma polêmica, está literalmente no mar de lama que deverá manchar sua reputação para sempre. 

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O desastre de Mariana

Na Bíblia está escrito que o homem recebeu um mandato divino para ocupar a terra, Até onde vai o meu parco conhecimento religioso, não foi dado nenhum limite à humanidade quanto à natureza. Ou, se foi dado, não ficou registrado no senso comum. 

Vivemos, durante os poucos milênios em que ocupamos esse planeta de vários bilhões de anos, como se os recursos terrestres fossem inesgotáveis e o espaço a ocupar fosse infinito. Há pouco tempo derrubar florestas era tido como uma benfeitoria. E na verdade ainda é assim para a maior parte das pessoas. Ninguém pensa que o mundo pode acabar não por uma hecatombe qualquer mas por uma série de acidentes que vão pouco a pouco minguando os nossos recursos e a nossa qualidade de vida. 

Na semana que passou duas barragens onde a mineradora Samarco depositava seus rejeitos se romperam, riscando do mapa o distrito histórico de Antonio Dias junto com muitas vidas. Uma barragem como essa é como um depósito de concreto, uma lama espessa e sufocante normalmente cheia de materiais tóxicos. Numa inundação, alguém pode agarrar-se a um pedaço de madeira que flutua e esperar ser resgatado. 

Uma avalanche de rejeitos dessa extensão é morte certa. É contaminação a longo prazo que escorre até os rios, é drenada para o subsolo e marca para sempre o meio ambiente em que se instala. Normalmente, quando algo assim aconteça, todos apresseam-se em procurar culpados. 

Mas muito pouca gente se dá ao trabalho de perguntar porque algo assim ainda é permitido. Como é que uma empresa consegue, com o consentimento das autoridades que nos representam, construir uma barragem de rejeitos logo acima de um povoado? Como as empresas grandes, ao chegar em qualquer lugar, sobretudo os menores e mais carentes, podem encher-se de vantagens de isenções de impostos sem que haja exigências capazes de assegurar que não causarão mal às pessoas dos lugares em que se instalam?

Isso acontece porque todos, praticamente todos, ficam imensamente felizes quando uma empresa grande procura um lugar pequeno. As autoridades apresentam a atração de empresas no balanço de suas realizacões. As pessoas lhes dão boas vindas porque desejam o progresso, querem ganhar mais dinheiro, ver o comércio florescer ter oportunidades de subir na vida. E quase nunca olham para os riscos tais empreendimentos representam.  

E de fato essas empresas grandes, com seu gigantesco poder de movimentar a economia dão a impressão de que o progresso chegou, animando as pessoas. Nós só não nos damos conta de que talvez não haja mundo para o tamanho do progresso que desejamos. 

Ao contrário do pensávamos na época da Guerra Fria o mundo pode acabar não numa única hecatombe que ceifaria de uma única vez todas as vidas. O mundo, na verdade, está acbando aos poucos, na sucessão de desastres que atingem os nossos recursos naturais. As empresas vão ficando mais ricas, mas o planeta fica mais pobre. E o empobrecimento atinge exatamente aquilo que é mais essencial à vida: há cada vez menos água potável, terra agricultável, ar respirável e diversidade biológica para apreciarmos. Mas apesar disso, todos continuamos a achar que somos os senhores do mundo, que tudo esta aí para nosso desfrute, como se tivéssemos mil planetas a nosso inteiro dispor. 

Quando acontece um desastre como esse, todas as pessoas olham para o desastre em si. Eu os convido a abrir um pouco mais a perspectiva e olhar para o tipo de mentalidade que permite que esses desastres aconteçam, um tipo de mentalidade que todos alimentamos. Com tudo o que vemos acontecer em nossos dias contnuamos a querer crescer a qualquer custo e a alimentar sonhos de consumo impossíveis de realizar. 

Para terminar, nada melhor que o poema de John Donne: “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.” Veja versão em áudio aqui




domingo, 1 de novembro de 2015

Por que coisas ruins acontecem com pessoas boas?

Por que será, meus caros amigos, que há tanta maldade no mundo? Por que há tanta guerra, tanta doença, tanta catástrofe? E por que, quando essas catástrofes acontecem, elas não poupam os justos, as pessoas boas e muitas vezes acabam livrando a cara de gente que, na nossa opinião, não faria a menor falta na face da terra?

Aliás, a maioria de nós, quando vê alguém de quem não gostamos passando por maus momentos, comentamos com uma certa alegria: “Tá vendo? A Justiça tarda mas não falha!”. Mas que raio de justiça é essa que não poupa as criancinhas inocentes, os nossos amigos mais queridos, as pessoas que amamos? Por que tanta coisa ruim acontece com tanta gente boa?

Num momento de crise como esse que o país atravessa é inevitável que essa pergunta nos venha à mente. Ou quando acontece um acidente aéreo como esse que matou 224 pessoas perto do Egito. Quanto cara legal não estaria nesse voo? Onde estará a famosa Justiça de Deus?

Para tentar responder a essa pergunta o rabino Harold Kushner escreveu, tempos atrás, um livro magnífico, chamado Quando Coisas Ruins Acontecem Às Pessoas Boas. Eu resolvi tocar no assunto hoje porque, do jeito que as coisas andam no mundo, tem muita gente se sentindo injustiçados, os que são crentes se revoltam com Deus e todos se revoltam de alguma maneira. 

O que o rabino Kushner nos propõe como resposta é surpreendente, principalmente em se tratando de um religioso. Deus, simplesmente, não é onipotente. Sim, há uma grande dose de aleatoriedade no universo. Tanta, que o grande físico Albert Einstein se recusava a acreditar. Quando foi descoberta a física quântica, por exemplo, Einstein não quis aceitá-la dizendo que Deus não joga dados. 

Kushner não chega a discordar de Einstein mas afirma claramente que a maldade do mundo não pode ser responsabilidade de Deus. E talvez, pelo mesmo princípio, nem mesmo a bondade possa ser. O rabino lembra que a ideia de que o mundo foi criado em seis dias é, na verdade, um mito. Que todos sabemos que o mundo é produto de uma evolução de bilhões de anos. E que, nas contas de Deus, ou do Universo, que são infinitas nós estaríamos aí pelo sexto dia da criação. 

Sim, o mundo ainda não está pronto. No princípio havia o caos, diz o livro do Gênesis. E de lá para cá o trabalho de Deus tem sido trazer ordem para esse caos. Alguns observam essa ordem nos fenômenos da natureza, na beleza das flores em determinados padrões gráficos que se repetem nas teias de aranha ou nas colméias. Ou ainda nos fractais, as figurinhas que parecem estrelas e se repetem de várias formas na natureza. Ou, no incrível fato de que nenhum asteróide gigante ainda ter atingido o nosso planeta embora isso seja bastante provável. 

Mas eu gosto dessa ideia de que Deus deixou o mundo inacabado porque bate de frente com a ideia alimentada por muita gente preguiçosa e irresponsável que acha que tudo é obra do destino e que se amanhã nosso planeta ficar sem água é simplesmente pela vontade de Deus. Ou, pior ainda, quando algo ruim nos acontece é porque contrariamos a vontade de Deus e aí morremos de culpa. 

Não, meus caros, Deus, se estiver lá em cima nos observando deve ter funções mais importantes que castigar filhos mal criados. E se ele nos entregou um mundo imperfeito, cheio de maldades, injustiças, catástrofes e obras do acaso, cabe a nós trabalhar pela ordem, pela justiça, por maior igualdade. 

Não adianta reclamar de Deus ou da sorte. O negócio é olhar para a frente e encarar os desafios que aparecem com coragem e disposição. Porque, se existe muita coisa ruim no mundo, também existe muita coisa pela qual vale a pena lutar. Para ouvir, clique aqui


foto: http://www.astropt.org/2013/08/12/deus-nao-joga-aos-dados-com-o-universo/