terça-feira, 24 de novembro de 2015

A Vale, a BHP, a Samarco e a tragédia de Mariana

Tem alguém morrendo na rua, há muita gente passando ao lado na calçada, mas ninguém faz nada para ajudar. A pessoa caída na calçada se esvai lentamente, é certo que vai morrer se for deixada ali mas também é certo que, se socorrida há tempo, a morte poderá ser evitada, ou – pelo menos – o sujeito só ficará com algumas sequelas. Mas as pessoas passam, observam, comentam e, simplesmente não agem.

É assim que o Brasil se comporta diante do desastre do rompimento das barragens da Samarco, empresa da Vale e da BHP Biliton. As barragens estavam com licenciamento vencido, se romperam, sairam destruindo o mundo morro abaixo e caminharam lentamente até o mar, sem que ninguém tivesse feito nada.

O Rio Doce morreu sem que Sebastião Salgado tivesse movido uma palha. A natureza se esvaiu na esteira do mar vermelho sangue que se movia quase em slow-motion. A Presidente da República sobrevoou a área, o Governador esteve lá, mas todos como expectadores.

É como acontece alguém é atropelado na rua e a maioria dos que se aglomeram em volta é de curiosos. Os paramédicos, quando chegam, têm dificuldade de transpor a multidão de bisbilhoteiros e fazer o que de fato interessa, tratar de salvar quem está morrendo.

Se formos analisar o período desde o vencimento do licenciamento das barragens até a chegada dela ao mar, vamos ver que houve tempo mais que suficiente para evitar que o desastre acontecesse ou para que seus efeitos fossem mitigados. Mas ninguém moveu uma palha. A não ser um prefeito de um município atingido que escreveu uma mensagem indignada acho que no Facebook.

O desastre da Samarco-Vale-BHP em Mariana caminha para ser um maiores desastres ambientais de todos os tempos, talvez comparável a Chernobyl e ao desastre do Exxon-Valdez. São cicatrizes que deixamos sobre a terra que jamais se fecham, se tornam quelóides indeléveis que deixamos sobre o planeta que nos abriga, nos nutre e nos mantém vivos.

Há uma expressão popular que diz que tal coisa “é mais feia que bater em mãe”. Sim, nós estamos espancando a nossa mãe terra, a mãe mais importante de todas porque é a mãe de todos, dos que estiveram aqui no passado e dos que virão no futuro.

Uma mãe doente é incapaz de gerar filhos sadios. As estratégias de gerenciamento de crise das empresas, as palavras-chave compradas no Google, as entrevistas evasivas – tudo isso de nada adiantará.

É como a multidão de curiosos aglomerada diante de uma pessoa ferida de morte na rua. Só faz barulho desncessário. E mostra o quanto ainda somos egoístas. Na hora em que um desastre desse tamanho acontece, as empresas, ao invés de tentar salvar as pessoas e o meio ambiente, gastam todas as suas energias tentando salvar a si mesmas. (foto: Ricardo Moraes/Reuters).

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