domingo, 29 de novembro de 2015

O consumismo e o desastre de Mariana

A sociedade de consumo obriga as pessoas a aparentar ter mais do que têm, a comprar o que não precisam, gastar mais do que podem, se afundar em dívidas e trabalhar parapassar a vida pagando contas.

Se o vizinho compra um carro novo, eu quero ter um melhor. A televisão me vende uma vida ideal, onde há paisagens deslumbrantes mulheres e homens perfeitos e diversos produtos que me trarão a felicidade eterna.

Parece inocente. Mas esse mundo idealizado obriga a maioria das pessoas a passar a vida competindo, acreditando que a vida é uma guerra em que só os mais fortes vencem. Nas favelas, os jovens pobres matam para conseguir um tênis de marca. Nos bairros de classe média se matam de trabalhar para oferecer ao filho o mesmo tênis ou quem sabe uma viagem a Disney.

E para fazer essa sociedade que consome mais do que precisa funcionar é necessário ir buscar as únicas riquezas verdadeiras que existem: os recursos naturais. As minas cavucam o chão, as madeireiras derrubam as árvores e a agricultura industrial exaure o solo e a água para levar alimentos para as pessoas e para as indústrias, já que produtos como o algodão e a fécula, por exemplo vão direto para a produção industrial.

A cada ano que passa, a despeito da aparência de riqueza de alguns, todos estamos ficando mais pobres porque os recursos do planeta estão se esgotando e nós sabemos que não se vive bebendo petróleo, comendo ouro ou mastigando diamantes.

Mas os mais ricos sabem disso. Por isso tratam de se apropriar ao máximo da riqueza que existe. A riqueza vai ficando cada vez mais concentrada na mão de uns poucos enquanto a maioria marginalizada se acomodada como pode. Podem até ter um lugar ao sol. Mas certamente não terá sombra.

Toda essa reflexão vem a propósito do desastre de Mariana, onde duas barragens de rejeitos minerais se romperam, assassinando o Rio Doce e já drenando as forças de boa parte da vida marinha entre o Espírito Santo e a Bahia.

Por que a Samarco precisou ir tão longe? Porque o mercado de minério de ferro está em queda. A China, grande comprador mundial, desacelerou sua economia e aí os executivos são pressionados para produzir cada vez mais gastando cada vez menos, porque a diretoria cobra, porque o mercado de ações exige. Porque estamos todos numa corrida de ratos da qual saímos todos infelizes ainda que acumulemos riqueza e poder.

E quando um desastre como esses acontece todos nos lembramos de culpar o capitalismo selvagem, a ganância das multinacionais como a Vale e a BHP, que são as donas da Samarco, a falta de cuidados das autoridades e tudo o mais. É evidente que todos têm culpa no cartório. Mas nós frequentemente nos esquecemos que o aço que sustenta os nossos prédios ou os minérios presentes em nossos smartphones vêm de minas como essa. É nossa sede de consumir que os alimenta.
Cláudio Teran me lembra do pescador Benilde, de Aimorés, navegando feito um coveiro que recolhe os peixes e camarões mortos no Rio Doce enquanto chora. Benilde é uma daquelas pessoas de quem o progresso passa longe, que vive do básico e consome apenas o que precisa. Isso quando encontra. Ele não faz parte da sociedade de consumo. Mas os seus tentáculos chegaram até ele, arrancando-o das suas raízes do rio que era quase um amigo, dos peixes cuja morte ele agora chora.

Não há como fugir, meus amigos. Nossos somos parte da sociedade de consumo e cúmplices de acidentes como esse na medida em que, como eu disse no início queremos aparentar mais do que temos, compramos o que não precisamos e alimentamos um monstro que não vai parar enquanto não devorar o planeta inteiro.

Sem comentários:

Enviar um comentário