domingo, 22 de novembro de 2015

O que há em comum entre jovens terroristas na Europa e jovens criminosos no Brasil


Jovens criminosos do Brasil: filhos do descaso do Estado tanto quanto os jovens jihadistas.
O que há em comum entre um jovem terrorista muçulmano na Europa e um jovem delinquente no Brasil? Bem, tirando provavelmente o sotaque árabe e a religião professada, as diferenças são muito pequenas, segundo o que se pode concluir de um artigo publicado esta semana no jornal inglês The Guardian por um agente do FBI muçulmano e descendente de paquistaneses. 

Ele sabe do que está falando, Embora se mantenha no anonimato, ele deixa claro que foi criado nas mesmas comunidades onde os jihadistas vão recrutar os jovens para amarrar bombas ao corpo e explodir pessoas. E que os jovens são atraídos para o terrorismo porque o país que adotaram para viver falha em lhes oferecer um sentimento de pertencimento e de aceitação.

Principalmente depois do 11 de setembro, todas as pessoas com traços de árabes tornaram-se potenciais suspeitos de terrorismo nos Estados Unidos e em diversos países da Europa. E assim, são detidos com frequência para interrogatórios, são obrigados a se deixar fotografar e deixar as impressões digitais ao entrar em vários países e, diante de tanta hostilidade, vêem com muita desconfiança os policiais e as autoridades.

No Brasil, embora não tenha havido um acontecimento específico para deflagrar uma onda de suspeita, a desigualdade social alimentada ao longo dos séculos levou os jovens pobres vivendo em favelas a também a ver  polícia com desconfiança. E não sem motivo. Quanto mais escura for a cor da sua pele maior a chance de ser parado numa batida policial, ser revistado e passar por constrangimentos.

O agente do FBI diz que a chave para se combater o terrorismo seria a colaboração das comunidades muçulmanas. Mas as comunidades também vêem a polícia com desconfiança porque a atitude da polícia em relação a eles é frequentemente desrespeitosa e agressiva. Ele conta a cara de paquistanês que tem e que em tese deveria facilitar o seu trabalho, tornava a coisa ainda pior. Porque ele era visto como um traidor, um vira-casaca.

Imagine como se sentem os habitantes das favelas brasileiras quando os policiais sobem os morros de fuzil na mão, chutando as portas e gritando com todo mundo. O agente do FBI diz que, caso as comunidades colaborassem, seria muito difícil os terroristas se esconderem ou passarem despercebidos. Afinal são lugares pequenos em que todo mundo se conhece e qualquer mudança de rotina não passa desapercebida.

Mas assim como acontece com as comunidades muçulmanas e as autoridades americanas e européias, aqui também há um fosso entre as comunidades das favelas e os representantes do Estado.

A desconfiança cria um solo fértil de onde as organizações terroristas podem recrutar com facilidade e para que a comunidade não deseje colaborar com as autoridades. “
O mesmo se pode dizer  das favelas brasileiras, onde o poder do tráfico seduz muito mais que o chamado bom caminho. Simplesmente porque o Estado se ausenta e quando comparece, o faz de forma desastrada e desastrosa fortalecendo o laço das comunidades com o crime organizado e afastando os jovens de uma vida decente.
“Como agente do FBI, eu sei que as comunidades têm a chave para combater o terrorismo. E como um muçulmano, eu sei que a melhor chance de evitar que os jovens se juntem a grupos de jihadistas é dar a eles um senso de aceitação no país em que adotaram”, afirma ele.
E à medida em que aumenta a desconfiança aqui e lá, também aumenta a violência em proporção ainda maior. E não adianta jogar bombas na Síria, no Iraque ou no Afeganistão quando o problema está em casa. E não adianta botar a polícia na rua quando o problema não é de polícia. É de saúde, educação e de oportunidades de emprego e de uma vida melhor.



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