domingo, 6 de dezembro de 2015

Caso da Samarco mostra que modelo de responsabilidade social corporativa está ultrapassado

A Samarco nunca foi uma empresa “do mal”. Pelo contrário, ela sempre se destacou no mundo corporativo e especificamente na mineração como uma das melhores empresas do país. Teoricamente, ela cumpria todas as regras para evitar acidentes. Então por que um dos piores desastres ambientais de todos os tempos foi acontecer exatamente com a Samarco?

“Porque as empresas se iludem”, escreve o jornalista Álvaro Almeida na revista Istoé. Segundo ele, o conhecimento que orienta as empresas é baseado em informações passadas e a previsão dos efeitos futuros de nossas atividades fica mais complexa e improvável”. Almeida afirma que as ferramentas e metodologias “servem para gerar conforto a acionistas e outros stakeholders, mas não garantem segurança diante de operações de grande impacto”.

Mas ele apens insinua o que é um fato cada vez mais grave na economia moderna: a pressão dos mercados por mais lucros e menos despesas leva as empresas a soluções maquiadas que nem sempre atendem as reais necessidades de segurança. A prova disso são as diversas alternativas de eliminação de rejeitos utilizadas com segurança pelo mundo afora, inclusive no Chile, um dos países mais afetados por terremotos no mundo, que praticamente não são levadas em conta no Brasil.

“A pressão por mais e mais produção, somada às incertezas ambientais e sociais, fazem com que cada dia sem acidente seja um dia mais próximo de um acontecimento inesperado”, analisa Almeida.

O que os mercados precisam pensar é que de nada adianta pressionar uma empresa a produzir cada vez mais sem levar a segurança realmente a sério porque os prejuízos financeiros e de imagem não compensam nem de perto os lucros eventuais.

Escreve Álvaro Almeida: “É necessário... repensar o modelo de negócios e os processos produtivos dela e de todo o setor de mineração.”

“A tragédia de Mariana revela que os padrões atuais da responsabilidade social corporativa não são suficientes para proteger a sociedade. Precisamos de negócios que tenham processos e modelos de negócios que gerem impacto positivo, regenerem a natureza e compartilhem o valor produzido.”

É verdade. Mas também é preciso repensar a relação dos governos com as grandes empresas porque muitas vezes o setor público se torna tão dependente da receita gerada pelas grandes empresas que faz afrouxar a fiscalização e o rigor necessário em operações com esse grau de risco. Além disso é preciso levar em conta um outro fator: se um acidente como esse aconteceu com uma empresa considerada modelo como a Samarco, o que esperar de mineradoras menos conceituadas?

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